A escolha da “Palavra do Ano” é uma tradição importante de dicionários e outras instituições linguísticas, que buscam identificar um termo relevante para o momento sociocultural. Em 2024, o Oxford English Dictionary selecionou brain rot, um termo que, em tradução literal, significa “cérebro apodrecido”. Embora o conceito de “brain rot” tenha ganhado popularidade neste ano, ele remonta ao século XIX, quando o autor americano Henry David Thoreau o utilizou pela primeira vez em seu livro Walden, publicado em 1854. Naquela época, Thoreau usava o termo para descrever o empobrecimento intelectual da sociedade, comparando-o ao apodrecimento das batatas na Inglaterra.
Hoje, no entanto, a ascensão do termo está diretamente relacionada aos efeitos da tecnologia moderna, especialmente o impacto das redes sociais no cérebro humano e na saúde mental. O Oxford definiu brain rot como “a suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente vista como resultado do consumo excessivo de material (principalmente conteúdo online) considerado trivial ou pouco desafiador”. O aumento das discussões sobre o efeito da tecnologia, a popularização dos algoritmos e a proliferação de conteúdos superficiais fizeram com que essa palavra se tornasse um alerta sobre os impactos do consumo desenfreado de conteúdo digital.
O crescimento da preocupação com o tempo de tela
O termo brain rot surgiu com força neste ano devido ao aumento das discussões sobre o impacto do uso excessivo das redes sociais e o tempo de tela, especialmente entre jovens e adolescentes. Segundo Andrea Janer, fundadora e CEO da Oxygen e especialista em tendências comportamentais, a escolha dessa palavra reflete uma preocupação crescente com a saúde mental da sociedade, particularmente com o consumo de conteúdos digitais rasos e triviais. “O termo brain rot funciona como um alerta para que as pessoas reflitam sobre os danos que o excesso de conteúdo superficial pode causar ao cérebro. Estamos vendo uma geração que perde a capacidade de se engajar com materiais mais desafiadores, como livros, filmes ou até mesmo fontes de notícias”, explica Andrea.
Em 2024, o livro Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt, foi um dos principais catalisadores dessa discussão. A obra trouxe à tona a relação entre o consumo excessivo de conteúdo nas redes sociais e o aumento de problemas como ansiedade, depressão e outros distúrbios mentais. Haidt argumenta que a forma como os jovens consomem informação hoje em dia tem um efeito significativo no desenvolvimento cognitivo e emocional, reforçando a relevância do conceito de brain rot na atualidade.
O impacto da superficialidade no consumo de conteúdo
Rafaela Oliveira, especialista em neurociência e consumo, também considera o conceito de brain rot um grande alerta para a sociedade. Ela destaca que o consumo exagerado de conteúdos rápidos, fáceis e superficiais tem levado à perda de importantes funções cognitivas. “Estamos vendo uma deterioração das funções cerebrais, como memória, atenção e até a linguagem, devido ao consumo excessivo de informações rápidas e rasas”, afirma Rafaela. Esse tipo de consumo não apenas diminui a capacidade de concentração, mas também prejudica o desenvolvimento intelectual, fazendo com que as pessoas se tornem menos críticas e reflexivas em relação ao conteúdo que consomem.
O fenômeno da brain rot está profundamente relacionado ao tipo de conteúdo que circula nas redes sociais. Com a proliferação de vídeos curtos, memes e informações fragmentadas, as pessoas tendem a consumir materiais que não exigem esforço cognitivo, mas que, em grande quantidade, resultam em uma diminuição das habilidades mentais. A ausência de desafios intelectuais nos conteúdos que consumimos pode levar a uma perda da capacidade de análise crítica, pensamento profundo e resolução de problemas.
Influenciadores digitais e o papel dos algoritmos
Outro fator que contribui para o fenômeno do brain rot é o papel dos influenciadores digitais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Sprout Social, o Influencer Marketing Report 2024, mais de 50% das pessoas que navegam na internet afirmam que o conteúdo produzido por influenciadores impacta suas decisões de compra. Além disso, esses influenciadores têm uma grande influência sobre comportamentos, hábitos e valores.
Christian (Crocas) Rôças, CEO da Flint, uma plataforma focada na educação da Creator Economy, aponta que a proliferação de influenciadores e o impacto dos algoritmos das redes sociais são fatores que ampliam a disseminação de conteúdo superficial. “A escolha de brain rot como a palavra do ano é um convite para repensarmos nossa relação com o digital. Precisamos educar as pessoas, ensinar como consumir conteúdo de forma inteligente e consciente. Não é apenas sobre criticar o excesso de conteúdo raso, mas sobre mostrar caminhos para transformar o consumo digital em algo mais produtivo e enriquecedor”, afirma Christian.
A proposta de educação digital surge como uma solução para combater os efeitos negativos do brain rot. Ao invés de simplesmente consumir, as pessoas devem ser incentivadas a produzir conteúdo, buscar informações de qualidade e desenvolver habilidades cognitivas que vão além do superficial. Em vez de ser uma armadilha, o ambiente digital pode ser uma ferramenta poderosa para o aprendizado e o crescimento intelectual, desde que utilizado de maneira responsável e consciente.
A solução
A educação digital é uma das chaves para combater o fenômeno do brain rot. Promover o consumo consciente, incentivar a leitura crítica e a análise profunda são passos importantes para mitigar os efeitos do conteúdo superficial. Além disso, é fundamental que pais, educadores e instituições de ensino estejam atentos ao impacto do tempo de tela no desenvolvimento cognitivo dos jovens. Como afirma Andrea Janer, “é preciso ensinar como usar as redes sociais de forma inteligente, criando uma prática digital mais equilibrada e com propósito”.
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Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Jardins. Redatora do grupo Sena Online.