A história da humanidade sempre esteve marcada por tentativas de cercear a liberdade de expressão, principalmente no que diz respeito à literatura. Desde os tempos antigos, os poderosos tentaram suprimir o acesso a ideias que pudessem contestar ou ameaçar o status quo. A censura a livros sempre foi uma forma de controle, uma tentativa de limitar a disseminação de ideias e conhecimentos. Ao longo dos séculos, muitos livros foram banidos por motivos religiosos, políticos ou sociais, sendo considerados subversivos, imorais ou até mesmo perigosos.
Nos últimos anos, o tema da censura voltou à tona, com diversos livros sendo proibidos em países como os Estados Unidos e o Brasil, principalmente quando abordam questões sobre racismo, sexualidade, gênero e justiça social. Veja a seguir, os cinco livros mais proibidos da história, entender seus contextos e refletir sobre o impacto da censura na sociedade.
1. The New English Canaan (1637) – O primeiro livro proibido nos EUA
Considerado o primeiro livro banido nos Estados Unidos, The New English Canaan foi escrito pelo advogado inglês Thomas Morton. A obra, publicada em 1637, contém críticas severas aos colonizadores puritanos e ao modo de vida dos primeiros imigrantes que chegaram à América do Norte. Morton descreve de maneira negativa a moralidade dos puritanos e denuncia suas ações, considerando-as hipócritas e opressivas.
Por ser uma obra considerada desafiadora às autoridades vigentes da época e herética, o livro foi rapidamente banido. Além disso, Morton é visto como alguém que não só criticava o comportamento dos colonizadores, mas também questionava as normas religiosas da época. Em 2019, uma primeira edição do livro foi leiloada por cerca de US$ 60 mil, mostrando que, apesar da censura, a obra ainda é considerada relevante até hoje.
2. Ulysses (1922) – O romance de James Joyce e a censura moral
O livro Ulysses, de James Joyce, publicado em 1922, é outro exemplo de obra literária que sofreu proibição, desta vez nos Estados Unidos. O romance foi considerado obsceno, com muitos censores alegando que ele continha pornografia explícita e blasfêmia. A principal polêmica girava em torno das descrições explícitas de relações sexuais e das críticas às normas sociais da época. Por conta disso, Ulysses foi banido e a sua circulação foi restrita.
No entanto, em 1933, o juiz John M. Woolsey revogou a proibição do livro, permitindo finalmente que fosse publicado e vendido no país. Woolsey argumentou que a obra possuía valor literário e que, apesar de sua explicitude, era uma forma legítima de expressão artística. Essa decisão é vista até hoje como um marco na defesa da liberdade de expressão, especialmente no que diz respeito à literatura.
3. Capitães da Areia (1937) – A perseguição ao romance de Jorge Amado
Em 1937, o Brasil vivia sob o regime do Estado Novo, um período de ditadura liderado por Getúlio Vargas. Nesse contexto, a censura atingiu em cheio muitos escritores e obras que eram vistas como subversivas ou simpatizantes do comunismo. Capitães da Areia, um dos maiores sucessos de Jorge Amado, foi um dos livros que sofreu a repressão da época.
O romance, que aborda a vida de crianças e adolescentes pobres nas ruas de Salvador, foi considerado um ataque à moral e aos bons costumes, sendo queimado em uma grande fogueira pelo regime. Cerca de 1,8 mil exemplares da obra foram destruídos em uma ação simbólica de censura. A queima de livros não era um ato isolado: outros títulos de Amado e de outros escritores também foram alvos da repressão.
4. Fahrenheit 451 (1953) – A sociedade opressiva de Ray Bradbury
Fahrenheit 451 é um dos romances mais emblemáticos sobre a censura e o controle de ideias. Escrito por Ray Bradbury e publicado em 1953, o livro retrata uma sociedade futurista em que os livros são proibidos e queimados, sendo os bombeiros os responsáveis por realizar as queimadas. O título faz referência à temperatura em que o papel entra em combustão, simbolizando a destruição do conhecimento e da liberdade intelectual.
O romance se passa em um regime totalitário onde o pensamento crítico é reprimido e as pessoas vivem em um estado de ignorância conveniente, sem questionar a autoridade. Fahrenheit 451 foi inspirado na caça às bruxas promovida pelo senador Joseph McCarthy e foi um alerta contra a censura e o conformismo. Hoje, é considerado uma das obras mais importantes da literatura distópica.
5. Os Versos Satânicos (1988) – O controverso romance de Salman Rushdie
Em 1988, o romance Os Versos Satânicos, de Salman Rushdie, causou uma enorme polêmica em todo o mundo. A obra foi considerada blasfema por muitos muçulmanos devido à sua interpretação satírica de figuras e eventos do Islã. O livro foi imediatamente proibido em vários países muçulmanos e, em 1989, o aiatolá Ruhollah Khomeini, líder do Irã, emitiu uma fatwa (decreto religioso) exigindo a morte de Rushdie.
O autor foi forçado a viver escondido por vários anos, com diversas tentativas de assassinato contra ele e seus editores. Em 1991, o tradutor italiano do livro foi atacado em sua casa, e o tradutor japonês foi assassinado. A polêmica em torno de Os Versos Satânicos gerou um debate global sobre liberdade de expressão, religião e os limites da literatura.
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Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Jardins. Redatora do grupo Sena Online.