Após anos de pesquisa e desenvolvimento, um conceito inovador está tomando forma no setor aeronáutico. Inspirado no comportamento dos gansos migratórios, a ideia de que aviões voem como gansos, está em formação e poderá se tornar uma realidade , prometendo reduzir o consumo de combustível e as emissões de carbono de forma significativa.
A ciência por trás do voo em formação
O princípio fundamental por trás dessa técnica é a recuperação de energia de esteira. Quando um avião voa, ele cria um rastro de vórtices turbulentos conhecidos como esteira. Tradicionalmente, essa esteira representa uma perda de energia e eficiência. No entanto, os pesquisadores descobriram que, ao voar em uma formação específica, um avião pode aproveitar a esteira do avião à frente, reduzindo a resistência aerodinâmica e, consequentemente, o consumo de combustível.
Aprendendo com a natureza
A ideia de voar em formação não é nova. Na verdade, ela é inspirada no comportamento das aves migratórias, como os gansos, que adotam essa estratégia há milhões de anos. Ao voar em um padrão em forma de “V”, os gansos se revezam na liderança, permitindo que os pássaros seguintes se beneficiem da esteira dos que estão à frente. Essa técnica aumenta a eficiência energética do bando, permitindo que eles voem distâncias mais longas com menos esforço.
O projeto GEESE
Liderado pela Airbus, o projeto GEESE (Ganhar Eficiência Ambiental Economizando Energia) é uma iniciativa financiada pela União Europeia e pela indústria aeronáutica. Com um orçamento de 10 milhões de euros, o projeto reúne uma variedade de partes interessadas, incluindo fabricantes de aeronaves, companhias aéreas, provedores de serviços de navegação aérea e instituições de pesquisa.
Objetivos e iniciativa
O objetivo principal do GEESE é mapear e habilitar operações de recuperação de energia de esteira (WER) para voos transatlânticos e transcontinentais em toda a Europa. O projeto está explorando uma série de aspectos, desde a ciência das esteiras até os processos operacionais necessários para que pilotos e controladores de tráfego aéreo gerenciem efetivamente os voos em formação.
Pacotes de trabalho operacionais
- Habilitar operações WER da Europa para o Atlântico Norte: Este pacote visa desenvolver e refinar o conceito inicial de operação (CONOPS), avaliar a segurança, analisar impactos nos sistemas existentes e desenvolver simulações e testes para validar suposições.
- Escalar o conceito WER para a Europa continental: Aqui, o foco está em fornecer soluções operacionais para estender as operações WER dentro do espaço aéreo doméstico europeu.
- Pacote de trabalho de ciência das esteiras: Este pacote investigará outros potenciais benefícios não relacionados à redução de emissões de CO2 dos voos em formação.
Colaboração e coordenação
Uma das chaves para o sucesso do GEESE é a colaboração entre as diversas partes interessadas. O projeto envolve companhias aéreas como Air France, French Bee, Delta e Virgin Atlantic, que trabalharão em conjunto para atualizar seus planos de voo e encontrar aeronaves adequadas para emparelhar. Além disso, os provedores de serviços de navegação aérea, como Eurocontrol, DSNA e NATS, desempenharão um papel crucial na coordenação e gerenciamento do tráfego aéreo.
Desafios e considerações operacionais
Embora o conceito de voo em formação seja promissor, existem diversos desafios operacionais a serem superados. Um dos principais obstáculos é a necessidade de desenvolver processos e sistemas para permitir que as aeronaves se encontrem e se unam como um par durante o voo.
Gerenciamento de tráfego aéreo
Um aspecto crítico é a coordenação com os controladores de tráfego aéreo. Qualquer alteração nos planos de voo das aeronaves envolvidas deverá ser comunicada e aprovada pelos controladores, levando em consideração a carga do setor, restrições do espaço aéreo e outras variáveis operacionais.
Fluxo de trabalho de Gerenciamento Colaborativo de Decisões (CDM)
Para facilitar essa coordenação, o GEESE está explorando um fluxo de trabalho de Gerenciamento Colaborativo de Decisões (CDM). Nesse processo, os centros de operações das companhias aéreas (AOC) enviariam os novos planos de voo aos pilotos apenas após consulta e aprovação dos controladores de tráfego aéreo (ATC) impactados.
Requisitos de aeronave
Embora os testes do WER sejam essencialmente independentes do tipo de aeronave, algumas funcionalidades específicas serão necessárias. Por exemplo, um sistema capaz de posicionar automaticamente a aeronave “seguidora” atrás da aeronave “líder” e rastrear seu vórtice de esteira. No entanto, a implementação dessas funcionalidades ficará a cargo dos fabricantes de aeronaves.
Flexibilidade no carregamento do plano de voo
Uma vantagem significativa seria a capacidade de os pilotos carregarem diretamente o novo plano de voo no sistema de gerenciamento de voo (FMS) da aeronave. Isso eliminaria a necessidade de inserir manualmente todas as informações, economizando tempo e diminuindo o risco de erros.
Benefícios potenciais e impacto ambiental
Os benefícios potenciais do voo em formação são substanciais, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. De acordo com análises preliminares, as companhias aéreas poderiam economizar entre 5 e 10% de combustível por viagem, reduzindo substancialmente suas emissões de carbono e custos operacionais.
Redução de emissões de gases de efeito estufa
Com a crescente preocupação com as mudanças climáticas, a redução das emissões de gases de efeito estufa é uma prioridade para a indústria aeronáutica. O voo em formação pode desempenhar um papel fundamental nesse esforço, ajudando as companhias aéreas a alcançar suas metas de sustentabilidade e reduzir sua pegada de carbono.
Efeito benéfico na economia e no meio ambiente
Além dos benefícios ambientais, a adoção bem-sucedida do voo em formação pode trazer vantagens econômicas significativas para as companhias aéreas. A redução no consumo de combustível resultará em custos operacionais mais baixos, o que pode se traduzir em preços mais acessíveis para os passageiros e maior competitividade no mercado.
Próximos passos e desdobramentos futuros
Após a fase inicial de definição de processos operacionais e avaliações de segurança, o GEESE está se preparando para entrar em uma nova etapa emocionante. Nos próximos anos, o projeto realizará diversas simulações e testes de voo em colaboração com as companhias aéreas parceiras.
Validação dos processos operacionais
Durante esses testes, os processos necessários para que as aeronaves se encontrem e se unam como um par serão validados na prática. Isso envolverá a participação ativa dos pilotos, controladores de tráfego aéreo e centros de operações das companhias aéreas, simulando cenários realistas de voo em formação.
Testes de voo com companhias aéreas parceiras
As companhias aéreas Air France, French Bee, Delta e Virgin Atlantic desempenharão um papel fundamental nessa fase, realizando voos em formação com aeronaves emparelhadas em diferentes altitudes, de acordo com os requisitos atuais de separação vertical mínima do ATM.
Expansão para outros tipos de aeronave
Embora os testes iniciais se concentrem em aeronaves específicas, como o A350 e o A330, o GEESE está explorando a possibilidade de expandir o escopo para incluir outros tipos de aeronaves, inclusive da Boeing. Essa iniciativa visa garantir que o conceito de voo em formação possa ser aplicado a diversas frotas aéreas.
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Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Jardins. Redatora do grupo Sena Online.